====== A ideia grega e a ideia cristã de liberdade ====== //A.-J. Festugière, Liberté et civilisation chez les Grecs, Cerf, 1947, p. 1-3, 19-20, 30-31.// A ideia grega e a ideia cristã de liberdade são certamente dois dos pilares fundamentais da civilização ocidental. Mas é importante esclarecer em que sentido. A liberdade, palavra e conceito, não é algo absoluto, mas relativo. Quando se diz "homem livre" e se busca analisar essa noção, somos imediatamente remetidos à ideia contrária de "cativeiro". Ser livre é não estar cativo, é estar "libertado". Mas libertado de quem ou de quê? No caso do cristianismo, o objeto em relação ao qual se é livre, ou liberto, é expresso da maneira mais clara pelos primeiros textos cristãos. É-se livre do pecado, da lei do pecado. Jesus diz então aos judeus que nele haviam acreditado: //"Se permanecerdes na minha palavra, sereis verdadeiramente meus discípulos; conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará."// Eles responderam-lhe: //"Somos descendentes de Abraão e nunca fomos escravos de ninguém (oudeni dedouleukamen popote). Como podes dizer: 'Vós vos tornareis livres'?"// Jesus respondeu: //"Em verdade, em verdade vos digo: todo aquele que comete pecado é escravo do pecado (doulos estin tes hamartias)... Se, pois, o Filho vos libertar, sereis verdadeiramente livres."// (Jo 8, 31-36). //"Graças a Deus porque, depois de terdes sido escravos do pecado (douloi tes hamartias), obedecestes de coração à forma de doutrina à qual fostes entregues. Libertados do pecado (eleutherothentes apo tes hamartias), vos tornastes escravos da justiça... Agora, porém, libertados do pecado e feitos servos de Deus, tendes o vosso fruto para a santificação e, por fim, a vida eterna."// (Rom. 6, 17-18, 22). Vê-se assim em qual plano se situa a liberdade cristã. É um plano moral e espiritual, que implica um dualismo radical. Esse plano, certamente, não está ausente do pensamento grego. Basta lembrar, em Platão, o dualismo — também radical — entre corpo e alma, da alma presa nos laços do corpo (//Fed.//, 82 e 2), fixada ao corpo como por um prego (//Fed.//, 83 d 4), a ideia da morte libertadora, esse motivo da libertação que percorre todo o //Fédon// (é a filosofia que liberta, //Fed.//, 82 d 5) e que fez dele um dos breviários da piedade antiga. Também não é necessário lembrar a influência dessa corrente platônica em toda a filosofia helenística. No entanto, quando a palavra e a ideia de liberdade reaparecem na literatura grega, não é à vida espiritual que elas se referem em primeiro lugar. Seu domínio é o da vida política... O grego não obedece a um homem, mas obedece à lei, porque esta é a expressão da vontade do povo, e o povo é ele mesmo. Essa concepção política não é particular a este ou aquele Estado da Grécia. Atenas, sem dúvida, oferece o modelo (Tucídides, II, 37). Heródoto também a atribui aos espartanos em uma circunstância memorável... //"Os lacedemônios são livres, sem dúvida, mas não o são em tudo. Têm por senhor a lei, e a temem muito mais do que os persas temem Xerxes. Fazem sempre o que a lei ordena. Ora, a ordem da lei é sempre a mesma: não fugir do combate, qualquer que seja o número dos adversários, mas manter-se em seu posto e ali vencer ou morrer."// (VII, 103). Na prosopopeia das leis no //Críton//, a base da argumentação é que a lei é uma espécie de acordo, de contrato, entre a comunidade cívica (//to koinon tes poleos//, 50 a 8) e o indivíduo. Ao chegar à idade adulta, quando já conhece a vida pública e as leis, o cidadão de Atenas é perfeitamente livre — se essa vida e essas leis não lhe convêm — de levar o que possui e estabelecer-se em outro lugar (51 d 1 ss). Sócrates nada fez nesse sentido. Permaneceu sempre em Atenas. Assim, provou que as leis de Atenas e o regime político ateniense lhe agradam. Ligou-se, portanto, a si mesmo e não pode agora violar esse acordo fugindo da Ática (52 b - 53 a). Há, nessa passagem célebre, uma frase bastante notável. Diz-se que Sócrates deve tudo às leis da cidade. São elas que o geraram, no sentido de que nasceu de um casamento legítimo consagrado pela lei; que o alimentaram e educaram, pois prescreveram a seu pai que o instruísse na //mousike// e na ginástica. Ora, Sócrates reconhece que essas eram boas leis. //"Pois bem, então, tendo sido assim gerado, criado e educado por nós (50 e 2, cf. 51 c 8), poderias alegar, primeiro, que não eras nosso (hemeteros), nosso descendente e nosso escravo (enkonos kai doulos), tu mesmo e teus descendentes?"// Essa palavra é, na verdade, muito curiosa. O cidadão é um homem livre no sentido de que não obedece a outro homem. Mas é o escravo da lei.