LRVV
Se, num *relâmpago*, tem-se uma única vez vislumbrado o que é a individualidade real, por que não tentar uma disciplina que leva à *expansão do ser*?
A disciplina do *sahaja* aceita inicialmente a vida em sua totalidade, tal como ela é. O coração se abre para recebê-la e vivê-la. Por outro lado, a inteligência e a lógica buscarão no *sâmkhya* o apoio necessário para obter a chave do enigma da existência. O *sahaja* aparece então como um caminho iluminado pela *experiência do ser interior*.
O *sâmkhya* é, na prática, o caminho para realizar a *expansão do sahaja*. Um pela razão e pela lógica, o outro pela instalação do «Homem real no templo do coração», não reconhecem, durante o trabalho interior, nem deuses, nem demônios, nem paraísos, nem infernos — nenhum formalismo de qualquer tipo. O ponto de convergência entre *sâmkhya* e *sahaja* é a vida em sua totalidade, tornada em si o objeto da meditação. Dessa maneira, a serenidade em si, e, externamente, uma justa relação com a vida e o próximo, tornam-se um yoga sem esforço, ou seja, uma maneira de ser.
Quem segue uma *disciplina espiritual* (*sâdhanâ*) utilizará o *sâmkhya* para aprender a olhar a *grande Natureza* (*prakriti*) mover-se em suas manifestações sem atrapalhar seus movimentos, a reconhecer sua *impressão* em toda coisa, a sua *habilidade* de passar de um plano de consciência para outro sem que se perceba. Não reagir a nenhum dos movimentos da *prakriti* significaria, de fato, viver no cerne da vida sem ser atingido por ela. Mas essa proposta é inaceitável no início, pois não é apenas observando os movimentos da *prakriti* que nos tornamos mestres dela.
O discípulo voltará seu olhar para si mesmo e descobrirá, sem que jamais o tenha observado até então, as inumeráveis *comoções interiores* criadas por tudo o que diz em si: «amo e não amo; quero e não quero; é justo e é falso», etc., que o impedem de constatar que em si mesmo ele é uma *prakriti* agitada idêntica à que existe ao seu redor.
Como pode ele se dissociar dessa *prakriti* que será sempre para ele, até a morte, o espírito e o corpo com todas as suas funções? Nesse momento, o *râja-yoga* tradicional vem em auxílio do aspirante. Por suas *disciplinas graduadas*, esse yoga leva o corpo a uma *tranquilidade consciente* e o espírito a um *estado de equanimidade* que pode ser comparado a um *repouso total*, ou a um *êxtase* (*samâdhî*) . Nesse estado de *equanimidade*, todos os movimentos automáticos da *prakriti*, e seu jogo inconsciente em meio a eles, podem ser percebidos. Ao longo dessa *disciplina interior*, o ideal do *sâmkhya* é *kaivalya*, ou seja, aprender a se manter em *recolhimento*, e o do yoga é *vairagya*, que significa aprender a se observar *sem paixão*, *sem julgamento*.
Um longo e minucioso trabalho se impõe para descobrir que toda emoção, seja qual for, cria um *movimento apaixonado* que arrebata o homem para fora de si. Nesse caso, o yoga ensina como barrar esse movimento impetuoso *esvaziando a mente de toda imagem*. A energia superabundante é assim trazida de volta para si. Mas o *sâmkhya* quer que essa energia, uma vez trazida de volta para si, seja conscientemente conduzida para a vida exterior, que seja operante, em plena luz, sem que a *prakriti*, interior ou exterior, seja perturbada. A energia é assim *purificada*. Ela se torna *criativa*. Certamente, esse estado só pode durar alguns minutos, e o homem habitual reaparecerá imediatamente com seu cortejo de reações conhecidas no jogo da manifestação.
Esse momento de *iluminação* — essa palavra é justa mesmo que a duração do momento seja curta — é um *olhar para dentro de si* e, ao mesmo tempo, um *olhar para fora de si* (*shivadrishti*). Ele pode ser simbolicamente comparado ao olhar perspicaz do *Purusha* em si mesmo e projetado ao seu redor sobre a *prakriti* ativa. Aceitar a *prakriti* em sua totalidade é puro *sahaja*. De uma maneira sutil, é trazer para além dos «amo e não amo», uma possibilidade de modificação nas densidades das *qualidades intrínsecas* (*gunas*) da *prakriti* e o caminho pelo qual ela pode ser atingida.