WEI WU WEI (TM:27) – NOÚMENO
Onde está o noúmeno?
(…)
*Para que houvesse um “aqui” ou um “lá”, um “agora” ou um “então”, teria que haver alguma coisa que pudesse estar aqui ou lá, agora ou então.*
E não é uma coisa?
*Finalmente!*
Portanto, não sendo uma coisa, não pode ter 'onde', 'quando', nem qualquer atributo ou qualificação.
*Nenhuma afirmação poderia estar mais longe da verdade sobre esse assunto.*
’Guenta! Que sujeito impossível você é! O que você quer dizer com isso?
*O que fez essa declaração?*
Eu fiz.
*Quem?*
Eu.
*Não existe tal entidade em lugar algum ou em momento algum.*
Bem, então, foi o noúmeno.
*É verdade, mas talvez não imediatamente?*
Você quer dizer através de mim mesmo?
*Por meio do que você é como um aspecto fenomenal do númeno.*
Sim, suponho que eu seja isso.
*Certamente que não! Somente “você” é isso.*
Você quer dizer. . . ?
*Como um “eu” v. é um noúmeno, somente um fenômeno pode ser “isso”.*
Entendo, entendo — mas por que minha afirmação estava errada?
*Porque, sendo todo fenômeno o aspecto aparente do númeno, você tem um “onde”, um “quando”, atributos e qualificações como fenômeno.*
Eu mesmo, então, sou o noúmeno?
*Certamente que não!*
Oh, meu Deus! Oh, meu Deus!!! Como isso é possível?
*Como um “eu”, você é pura farsa, uma peça não muito bonita de imaginação supérflua! No máximo, um boato.*
Obrigado, meu velho, mas aceito gentilmente, pois talvez sua intenção seja boa! Quero chegar ao fundo da questão. O noúmeno tem atributos em seu aspecto objetivo de fenômeno ou aparência?
*Não existe algo como o noúmeno, que é apenas um termo mais técnico para “mente”, em sua conotação abstrata. O noúmeno só é cognoscível como fenômeno.*
Então, os atributos etc. dos fenômenos são, em última análise, os atributos etc. do noúmeno?
(…)
*O noúmeno é apenas eu, como dito por todo e qualquer ser senciente, pois a senciência desse ser aparente é o “eu” que o diz ou permite que seja “dito”.*
Mas o fenômeno que realmente o expressa?
*É idêntico a qualquer outro fenômeno concebível que tenha existido, exista ou possa existir.*
Assim, todos os fenômenos são apenas a aparência do noúmeno.
*Esse é o meu entendimento, pelo menos.*
E — ainda mais importante — o númeno é apenas, e tão somente, o que aparece como fenômeno?
*O que mais poderia ser? “Isto” como tal é apenas um conceito, certamente?*
Você quer dizer que “isto” não tem existência real?
*Nem real nem factual. “Isto” é meramente “eu” — quem quer que o diga.*
E “eu” não “existo”?
*Certamente que não; onde e quando há um “eu” para “existir”? Somente existe um 'você'.*
No entanto, o noúmeno, manifestando-se ou aparecendo como “fenômenos”, é onipresente nessa forma?
*Você o está objetivando como uma “coisa” fazendo tudo isso.*
Então, o que posso dizer?
*“Eu”, a “noumenalidade”, manifesto ou apareço como “fenomenalidade” e, aparentemente, sou onipresente nesse aspecto“. Nem a noumenalidade nem a fenomenalidade existem como tais, mas estão apenas em sua negação mútua, que é o preenchimento como eu.*
No entanto, todo objeto que meus sentidos percebem, ou seja, toda e qualquer aparência, é apenas a minha própria noumenalidade expressa como diversos fenômenos?
*É apenas a noumenalidade que é o que você é. . . . .*
E o que eu sou é tudo o que eu percebo e conheço, e tudo o que eu percebo e conheço é o que eu sou?
*É isso mesmo. Continue.*
Continuar? Isso não é suficiente?
*De fato, não.*
Então, o que é?
*O que sou nem é nem não é, e nem sou nem não sou como eu.*
Qual “eu” é a ausência do conceito de nem é nem não é, nem sou nem não sou?
*Isso é o mais longe que as palavras podem levar.*
Então, não há mais nada que possa ser dito?
*A resposta de Vimalakirti foi o silêncio quando os quatro bodhisattvas tentaram responder à pergunta sobre como haviam entrado no portão do Dharma da desidentificação por meio da apreensão da identidade dos opostos — o buscador e o buscado, o eu e o outro, etc., dos quais este que estamos discutindo é o essencial.*
Então, um leigo entendeu mais claramente do que quatro bodhisattvas, incluindo Manjusri?
*É verdade, é verdade; talvez ele tenha entendido mais profundamente — embora eu esteja inclinado a duvidar que esse ponto, tão interessante para nós, tenha sido o clímax pretendido da história!*
