Billeter (ECT) – Todas as coisas são iguais (1.1)
BilleterECT
1.1 (a) Apoiado em seu descanso de braço, com o olhar perdido no espaço, Nan-kouo Tseu-ts’i esvaziava-se suavemente de sua respiração; parecia-lhe ter perdido seu corpo.
— Como isso é possível? — perguntou-lhe então Yen-tch’eng Tseu-yeau, que estava a seu serviço e permanecia de pé diante dele. — Pode-se realmente tornar o corpo semelhante à madeira morta e o espírito como cinzas? Eu já o vi muitas vezes apoiado em seu descanso de braço no passado, mas nunca dessa maneira.
— Fizeste bem em perguntar — respondeu Tseu-ts’i. — Percebeste que, há pouco, eu havia perdido o meu eu? (b) Já ouviste as flautas humanas, mas provavelmente não as flautas da terra. E se já ouviste as flautas da terra, certamente nunca escutaste as flautas celestes.
— Não — disse Tseu-yeau — mas posso pedir que me instruas?
— O que é o vento? — indagou então Tseu-ts’i. — É o sopro que exala da grande massa. Melhor que ele não sopre, pois, quando se ergue, todas as cavidades começam a rugir. Nunca escutaste esses bramidos? Nos desfiladeiros e ravinas das florestas montanhosas crescem árvores gigantes cujas cavidades se assemelham a narinas, bocas, ouvidos, copos, taças, almofarizes, bacias, fossos – e nelas ressoa um rugido, um gemido, um bramido, um estrondo, um ronco, um murmúrio, um uivo e um pranto. Ouve-se o canto de grandes “oh” seguidos de amplos “uh” – uma pequena harmonia quando sopra a brisa, uma grande harmonia quando chega o furacão. E quando as rajadas cessam, as cavidades voltam a ficar vazias, como antes. Nunca viste como as árvores, nesse momento, balançam e estremecem?
— © Assim — disse Tseu-yeau — a música da terra emerge dessas cavidades, assim como a música humana surge dos tubos de bambu da flauta. Mas a música celeste?
Tseu-ts’i respondeu: — Ela sopra de inúmeras maneiras diferentes e faz com que cada ser ressoe de acordo com sua própria natureza, tomando apenas o que lhe é necessário. Mas quem é o sopro? Quem o emite?
