A Arte da Alquimia (O Romance da Rosa)
Jean de Meung, O Romance da Rosa
A arte que ensina a alquimia é capaz de tingir todos os metais em diversas cores—pois morreria antes de transmutar as espécies, caso não consiga reduzi-las à matéria-prima—; atua enquanto há vida, mas nunca poderá igualar a Natureza. E, desejando compreender como alcançá-la, será necessário saber como obtê-la ao preparar seu elixir, essa proporção adequada da qual deve surgir a nova forma, proporção que distingue as substâncias entre si por diferenças específicas, como aparece na definição.
No entanto, há algo perfeitamente sabido: a alquimia é uma verdadeira arte, e quem a utiliza com sabedoria realiza verdadeiras maravilhas, pois, sejam quais forem as espécies, os corpos particulares submetidos a preparações inteligentes podem ser modificados de várias formas, chegando até a alterar sua natureza e sendo inseridos em outras categorias. Não viram como os mestres vidreiros transformam uma massa amorfa em um frasco ou um copo? Mas a massa de vidro não é o copo, nem o copo é a massa. Quando ocorrem tempestades e o trovão ruge, relâmpagos brilham, e frequentemente se vê cair pedras de vapores que, em si, nada possuem de pedra. O sábio pode conhecer a causa dessas alterações da matéria. São as espécies transmutadas ou indivíduos que se afastam por substância e acidente, alguns por sua própria natureza, outros pelas invenções da arte.
Do mesmo modo, poderiam ser fabricados metais se fosse possível extrair, de determinadas substâncias, suas formas puras, separando as impurezas e conectando-as de acordo com sua constituição, pois todas provêm da mesma matéria, independentemente da disposição de seus elementos. Os livros dos filósofos, de fato, dizem que as diversas espécies de metais nascem nas minas de enxofre e mercúrio. Quem possui a habilidade de separar os espíritos de tal maneira que possam penetrar nos corpos e se fixar neles—desde que os encontrem suficientemente puros e que o enxofre, seja branco ou vermelho, não os queime—poderá realizar o que desejar e produzir metais à vontade. Os mestres da alquimia fazem surgir ouro fino da prata, adicionando-lhe peso e cor por meio de ingredientes de baixo custo; e do ouro fino criam todas as pedras preciosas, límpidas e brilhantes. Além disso, transformam os outros metais, transmutando-os em prata por meio do uso de substâncias brancas, penetrantes e refinadas. Mas aqueles que apenas sofisticam jamais conseguirão realizar algo semelhante; que trabalhem o quanto quiserem, nunca alcançarão a Natureza.
