SPECULUM

*Hermes-Tchan*

Essa verdade inata que recebemos de nossa mãe, não se pode dizer que se realize sem esforço. Lin-tsi não é um quietista. Ele lembra aos seus ouvintes sua própria experiência (A. 64-66; Y. 108):

*Antigamente eu me interessava pelo Vinaya (isto é, pelos livros que tratam da disciplina, da regra monástica). Antigamente, eu também pesquisei os textos canônicos e os tratados de exegese. Depois percebi que não passavam de remédios bons para curar o mundo, e discursos superficiais; e de repente, rejeitei tudo isso. Então comecei a me informar sobre a verdade consultando mestres de Ch'an, e finalmente encontrei um grande mestre (é o seu querido Houang-po); e só então comecei a enxergar com clareza. Reconheci nele um daqueles velhos mestres dignos de serem venerados por toda a China. Mas soube que o conhecimento do falso e do verdadeiro não se adquire apenas por nascer de sua mãe. É preciso ainda sondar as coisas pessoalmente, refinar-se como o minério, polir-se como o espelho (de bronze). Então, numa bela manhã, acordamos.*

E um pouco adiante (A. 88-90; Y. 158):

*Veneráveis, não passem seus dias à deriva! Antigamente, quando eu ainda não tinha visão, as trevas se estendiam sobre mim; tudo era escuro. No entanto, não podia ficar sem fazer nada e, com febre no ventre, o coração oprimido, corria por toda parte me informando sobre o Caminho. Mais tarde, recuperei minhas forças; e eis-me aqui hoje, conversando com vocês. Exorto-os, adeptos, a não se preocuparem com suas roupas e sua comida. Considerem que é fácil viver neste mundo, mas difícil encontrar um bom mestre; ele é tão raro quanto a flor da Udumbara. Por toda parte, vocês ouviram dizer que havia um velho sujeito chamado Lin-tsi; e vieram me questionar sobre suas dificuldades. O ensino não pode ser feito pela linguagem; é com todo o meu corpo que ajo em relação a vocês, como já experimentaram por si mesmos. Mas tudo o que consigo é que fiquem aí, estupefatos, de olhos arregalados, a boca imóvel, incapazes de responder às minhas perguntas. Eu lhes digo, o burro não tem força para pisar como o elefante…*