DUBOIS (DDAG) – A LIBERDADE NO CORAÇÃO DO PENSAMENTO DE ABHINAVAGUPTA
DDAG
No cerne do discurso de Abhinavagupta, do qual apresentamos anteriormente uma síntese, está a liberdade. O absoluto do budismo, do Sāṃkhya e do Vedānta é um absoluto impessoal. Ele não é vivo, no sentido de não ser animado por uma autoconsciência, que é o germe dos desejos, pensamentos, palavras e ações. O shaivismo, ao contrário, é desde o início teísta. Ele propõe entrar em uma relação pessoal, como dizem os cristãos, com Deus, por meio de sacramentos e contemplações que permitem não apenas vê-Lo com o olho da inteligência (*buddhi*), mas também saboreá-Lo através de um desejo de amor (*bhakti*) que se intensifica incessantemente. Esse amor, esse impulso que aspira a se perder na divindade, a ser plenamente possuído por ela, é a característica original e comum a todas as tradições teístas, incluindo o shaivismo.
Por isso, o absoluto é o “Senhor” (*Īśvara*), dotado de soberana liberdade. Esses atributos não são acidentes projetados pelo entendimento sobre um absoluto incognoscível, mas sim a essência do absoluto. Chegados a esse estágio, é importante compreender que muitos termos são sinônimos na boca do Filho da Yoginī. Do lado do absoluto soberano, há o ser ou a existência (*sattā*), a Grande Existência (*mahāsattā*), a Luz-manifestação (*prakāśa*), o Aparecer (*ābhāsa*), o Senhor (*Īśvara*) ou Grande Senhor (*Maheśvara*). Do lado do Poder desse Senhor, os sinônimos são ainda mais numerosos: o Poder (*śakti*), é claro, mas também a Deusa (*Devī*), o Pensamento ou Consciência (*vimarśa*), o desejo (*icchā*), a intuição criadora (*pratibhā*), a liberdade soberana (*svātantrya*), a onisciência e a onipotência, a ação criadora (*kriyā*), e muitos outros. Em certo sentido, todo o esforço exegético de Abhinavagupta se resume a essa empreitada de tradução dos termos dos *tantras* em termos filosóficos, e vice-versa.
